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A culpa é da chuva

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08.05.2025

LEONARD FARAH, especialista em gestão de crises, CEO e cofundador da HUMUS, ONG de prevenção e resposta a desastres

São incontáveis as vezes em que ouvi essa frase — "a culpa é da chuva" — ser dita por autoridades após uma tragédia. Repito: incontáveis. Sempre que chego a um desastre, ouço alguém colocar a culpa em algo "inevitável", como um fenômeno da natureza.

Mas desde quando a natureza virou desculpa para a negligência humana? Durante meus estudos no Japão, ouvi de um professor algo que nunca mais esqueci: "Terremotos não matam pessoas. Casas frágeis, sim."

A lógica é direta e precisa. Deslizamentos não matam pessoas, mas, sim, moradias construídas em áreas de risco. Enchentes não matam pessoas, mas, sim, a falta de alerta, de rotas de fuga, de políticas públicas e de educação preventiva.

O Brasil tem memória curta e prevenção frágil. Desde 2009, estive presente em tragédias como Mariana, Brumadinho, o ciclone em Moçambique, os terremotos no Haiti e na Turquia, as chuvas em Petrópolis, São Sebastião, Recife — e, mais recentemente, nas enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul. Posso afirmar com toda certeza: o povo brasileiro é solidário, se mobiliza. Mas não resolve.

Passado o susto, passa a vontade. Nas semanas seguintes ao desastre, recebo dezenas de mensagens: "Precisamos expandir os........

© Correio Braziliense