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Pose e remorso

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Há sempre um instante em que a alma se entrega. Não à verdade, mas à causa. Que paixão é essa que nos empurra, que nos obriga a escolher bandeiras, a entregarmo-nos a uma encenação de convicção, tão pura quanto verosímil? É o mesmo impulso que fazia os mártires correr para o cadafalso? Essa fome de Deus? Essa fome de pureza? A segunda, vos digo. E quem não a tem arranja um keffieh. Amarra-o ao pescoço, ou faz dele um saiote, e acredita que salvou alguma coisa.

Adere-se como se pode. Há quem o faça por fé, há quem o faça por ajuste directo, assinando minutas com a própria vaidade. Em nenhum dos casos se olha a realidade nos olhos: não se sabe, não se quer, não dá. A realidade é vítrea, reflecte e mostra sempre o que nos desconfirma; e por isso é que mesmo o mais abjecto episódio da série South Park tem sempre qualquer coisa de profético.

Só assim se entende que a causa palestiniana tenha tantos devotos e há tanto tempo, enquanto o Sudão, pobre Sudão, arde sem ninguém dar por isso. Ou os cristãos da Nigéria, resgatados da insipiência........

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