Entre sonhos, estigmas e flores do Irã, por Washington Araújo
Era 7 de abril de 2012 quando Maryam Ghadiri atravessou o oceano carregando apenas duas malas. Uma, leve e luminosa, abarrotada de sonhos, esperanças e paixão por um futuro melhor. A outra, densa de lembranças: fotos, livros, souvenirs, tudo o que pudesse impedir que a nova vida nos Estados Unidos apagasse a memória da terra natal, o Irã.
Na bagagem invisível, porém, havia algo mais: o medo do desconhecido. Medo das reações alheias, medo do silêncio pesado que se segue ao se apresentar como iraniana, medo de carregar na pele e na voz os estigmas fabricados por noticiários repetidos até a exaustão. Maryam não viajou apenas para estudar. Ela viajou para confrontar a imagem distorcida que o mundo ocidental cultiva sobre sua cultura e seu povo.
Logo percebeu três formas de acolhimento. O primeiro era a indiferença cortês: um “ah, legal” encerrava a conversa. O segundo era a pausa carregada de estereótipos: “Irã? Ah, guerra, deserto, camelos.” O terceiro, mais generoso, buscava associações estéticas ou gastronômicas: o tapete persa do avô, o gato da tia, o açafrão na comida. Maryam descobriu, então, que........
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