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O Coração Ainda Bate. Os mesmos sapatos

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Eu não sei o que é a sorte. Confundo a ideia que os outros têm de Deus com a sorte que me calha. Que faço acontecer. A sorte, às vezes, é escapar à tempestade de cinco minutos, mesmo que o dia tenha 24 horas. Da mesma forma que o azar é ser apanhado em cheio por esses segundos de uma intempérie pouco previsível.

Tenho fé na humanidade, mesmo agora, quando a esperança se deixa manchar pelo medo: um borrão medonho que perpassa o nosso cupão feito de pequenas vitórias e direitos. Triunfos que não são o Euromilhões, mas que fazem com que acenemos a cabeça e pensemos: é sorte. Talvez possa ser mérito. É justo. É um mérito ajustado e merecido.

Os meus pais vieram de um lugar muito difícil: de uma sociedade em hierarquia que os atirava para o fim da lista. Tiveram nome, mas nunca apelido. Tiveram fome e viveram décadas de sacrifício. O sacrifício entranha-se de tal maneira em nós, que, mesmo quando podemos viver de outra forma, já não nos........

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