Os médicos de Schrödinger
1Não há falta de médicos e há falta de médicos. Ou, com mais rigor, pode ser que haja falta de médicos e pode ser que não haja falta de médicos. Qualquer uma das afirmações pode corresponder à realidade dependendo do momento escolhido para verificar a sua existência e contar quantos são. Esse momento não é um acidente de observação, não é arbitrário e pode ser escolhido pelo observador. E acrescenta-se, para o completo entendimento da experiência, que o número de médicos presentes nesse instante cósmico em que alguém olha para eles apenas em parte se relaciona com uma errância subatómica – na realidade, depende sobretudo de regras que tornam previsíveis os seus movimentos e localização espacial. Assim, escolhido o momento e o lugar, se determinará que existe ou não existe falta de médicos. A estatística que daí decorre não depende de uma lei física cega e honrada. É, como todas as estatísticas, um artifício ensopado por boas intenções que, como a experiência demonstra, são sempre as segundas intenções.
Provavelmente há falta de médicos em algum dos 357 centros de saúde, 570 unidades de saúde familiar, extensões de saúde e outros improvisos de atendimento espalhados por Portugal. Em muitos desses locais existem problemas de envelhecimento – das populações e dos médicos. São lugares remotos, frequentemente servidos por más estradas. São em número que vai variando de reforma para reforma e neles foram plantadas, ou resistem, soluções de atendimento vocacionados para pessoas crónicas – que assim são vistos aqueles homens e mulheres agarrados ao seu sítio e às suas cabrinhas, sozinhos, livres de más companhias excepto durante eleições e à espera de filhos que não têm. Em muitos desses locais a falta de médicos é uma inevitabilidade porque os médicos não gozam das mesmas propriedades das planárias, que se dividem com êxito e resistem à morte. Haverá nesses lugares falta de médicos, senão em Fevereiro pelo menos em Abril/ Maio, época alta das reuniões científicas, ou em Julho/ Agosto/ Setembro, por altura das férias, pelo Natal/Ano Novo, período designado pelos calendários para fazer pontes, em qualquer outra altura que a Dra. Joana Bordalo e Sá considere adequada para uma greve ou, finalmente, quando o ancião que exercia medicina adoeça ele próprio. Para esses locais as soluções que asseguram cuidados de saúde são escassas e sem vicariância. Não foram planeadas nem obedecem a qualquer lógica, restam por respeito a populações residuais, sobreviventes de uma época em que para casar fora da terra bastava atravessar uma ribeira.
Há também falta de médicos nas terras de ninguém onde hoje vive mais gente, em periferias, antigos desertos que não contavam ser invadidos por bairros de recurso, acampamentos de barracas e feiras de crack. São subúrbios sem memória de convivialidade, com escolas de ensino pre-fabricado, de paredes grafitadas e com restos de namoros nos passeios, sem edifícios antigos onde antes existira uma casa do povo, sem abortadeiras experientes, onde não resiste uma farmácia aberta à noite.
Pode haver falta de médicos no coração de uma grande cidade, apenas num dos seus bairros ou em algumas ruas. Porque ocorreu um imprevisto que era previsível, porque em algumas casas passaram a habitar duas mil pessoas, porque as autarquias não foram diligentes, porque a população envelheceu e tem constantes dores no peito, nos joelhos e na alma e, não tendo outro sítio para ir, vai ao médico.
Existem, porém, relatos de observação que sustentam a existência de médicos suficientes. Não chegam a ser singularidades no sentido cosmológico porque nesses momentos do espaço-tempo continuam a vigorar leis, mas são raros. Entre todas as leis a mais importante é a que determina as........





















Toi Staff
Gideon Levy
Tarik Cyril Amar
Stefano Lusa
Mort Laitner
Robert Sarner
Mark Travers Ph.d
Andrew Silow-Carroll
Constantin Von Hoffmeister
Ellen Ginsberg Simon