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A minha moral é superior à tua (5)

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16.08.2025

1. Em consonância com o desenvolvimento do pensamento e da sociedade, é perfeitamente normal que as definições conceptuais evoluam. Os conceitos são, por natureza, flutuantes. Isso significa ser recomendável considerar o contexto histórico e temporal a que se referem.

Quando abordamos o culto da personalidade no âmbito da superioridade moral, não podemos ignorar dois fenómenos que remontam a tempos imemoriais e que foram moldando a história através do influenciar do pensamento filosófico, ideológico e religioso, consubstanciando-se em regimes distintos. Refiro-me ao sacrossantismo e ao messianismo (incluindo político), cujo principal efeito é a sacralização (e a consequente imposição) de certos valores, líderes e instituições, atribuindo-lhes um carácter absoluto e inquestionável, bem como uma dimensão transcendente.

Pode estabelecer-se uma distinção entre ambos os “ismos”: o sacrossantismo está relacionado com a dimensão da simbologia ideológica, enquanto o messianismo remete para a crença, ou até o culto, num líder redentor que conduzirá a sociedade a um futuro pré-idealizado e perfeito.

A crença, o culto e a veneração de líderes como figuras dotadas de uma dimensão divina e espiritual não são novos e manifestam-se ao longo da história. Basta recordar as culturas suméria, hitita, babilónica, egípcia, romana, chinesa e japonesa. Destaco, por exemplo, as culturas egípcia e romana. Os faraós eram vistos como intermediários entre os deuses e os homens, enquanto os imperadores romanos eram frequentemente divinizados, com alguns, como Augusto, a utilizarem essa sacralização para consolidar o seu poder. Durante a Idade Média, com o poder político intrinsecamente ligado à religião, a noção de direito divino legitimou os monarcas. Todos estes cultos serviram para justificar a autoridade absoluta.

2. Resultantes de possíveis reinterpretações, estas ideias, ainda que adaptadas, manifestaram-se no século XX, no comunismo e no nazismo. Apesar de rejeitarem formalmente a religião tradicional e de parecerem regimes seculares e materialistas, ambos propagaram os seus próprios dogmas e cultos, elevando certos homens, valores, símbolos e ideias a um estatuto intocável e sacrossanto. Baseado nas ideias de Karl Marx, o comunismo instituiu diversos dogmas que foram posteriormente sacralizados nos regimes........

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