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A minha moral é superior à tua (1)

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21.07.2025

1 Comecei a reflectir sobre a transitoriedade em 2010. Embora tenha focado a minha investigação nos efeitos e consequências do desenvolvimento tecnológico, não deixei de considerar como altamente provável um período de desorientação política e de mutação ideológica capaz de provocar reorientação de valores e princípios. E também receei o aumento dos extremos e a consequente polarização e intransigência entre partidos, pois já na altura começava a ser perceptível uma resistência ao pensamento e decisão de acordo com a consciência individual. Começava a não ser possível dizer o que pensávamos. Tínhamos de dizer o que os outros queriam ouvir. Hoje, como já várias vezes afirmei, vivemos nesse quotidiano. Hoje, verifica-se um permanente julgamento de intenções, onde o interlocutor com quem falamos assume que quem que não partilha das suas posições, seja de esquerda ou de direita, tem intuitos moralmente perversos e inaceitáveis para o país. Hoje, vivemos na democracia das claques, na vigência da hipocrisia e da relativização da verdade.

A esquerda foi a primeira a experimentar a inadaptação. A queda do marxismo-leninismo resultou da incapacidade de aplicação prática do seu modelo económico e político. Incapaz de reconhecer e de aprender com os erros, a esquerda passou a privilegiar a cultura como vertente de doutrinação oficial, recuperando Gramsci, Horkheimer, Marcuse, Foucault, entre outros – Raymond Aron, no ópio dos Intelectuais, desmontou magistralmente os equívocos da filosofia e da sociologia de Marx, assim como a dificuldade em compreender que os intelectuais [da esquerda] tenham aceitado com tanta facilidade todas as restrições que o comunismo representava, abandonando levianamente a crítica e o pensamento crítico em favor da divulgação doutrinária. Mas assim aconteceu, tendo o apregoar da superioridade moral proletária permanecido incólume e adquirido uma nova pujança: o wokismo e as políticas identitárias e de género passaram a ser o novo credo comunista. Ironicamente!

Há uma diferença substancial entre uma opção individual e a sua prática dentro dos limites da liberdade individual – que deve ser integralmente........

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