Hitler, trágico dono do coração ocidental
A tese não é nova mas o livro de Alec Ryrie simplifica-a notavelmente: vivemos na Era de Hitler porque ele é, pela negativa, o melhor consenso do mundo ocidental. Num contexto cada vez mais marcado pela diversidade, não há figura que nos una como Adolph: todos concordamos em condená-lo. O problema é que esse consenso pós-Segunda Guerra começa a falhar. E o resto do planeta, por exemplo, não se sente forçado a interiorizar os traumas europeus. A inesperada perturbação trazida pela Era de Hitler é o seu fim iminente.
Autores como Jürgen Habermas, Tony Judt ou Susan Neiman, entre outros, mencionaram que as piores memórias do Holocausto serviram como o mito fundador possível da moral ocidental no último século. A frescura do “The Age of Hitler” de Alec Ryrie, editado já neste ano de 2025, está em encapsular a ideia com brevidade e urgência. O autor britânico, que já nos tinha oferecido o fantástico “Protestants—the Faith that Made the Modern World”, pega no assunto com habilidade também porque explica que as guerras culturais de agora só poderão acabar em função de o enfrentarmos. Ou seja, toda a gritaria que enlouquece as pessoas nas redes sociais poderá chegar ao fim se assumirmos que temos de ir além da sombra de Hitler.
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