Bürger e a engenharia do disparate
No século XIX, algures entre a sombra do Rathaus (a Câmara Municipal) e o rumor dos Stammtisch (as mesas redondas de cerveja), apareceu um homem a quem a história — por ironia e justiça poética — chamará Bürger. Não lia relatórios: considerava-os “um atentado à boa disposição”. Trocava estatísticas por anedotas, números por onomatopeias e debates por gritarias. Prometia “mais pão, menos contas e zero aborrecimento” e, sempre que alguém pedia detalhe, respondia com o seu programa de governo completo: “Depois vê-se!”
Bürger tinha um talento raro: dizia parvoíces óbvias com tanta convicção que soavam a revelação. “Os impostos são altos porque nos tiram dinheiro!”, bradava do balcão da cervejaria. A multidão — grata por finalmente entender política — explodia em aplausos. Quando um adversário perguntava “como financiará o Estado?”, Bürger abria os braços, sorria e devolvia a pergunta: “Mas por que é que o Estado precisa de tanto?” Brilhante. O detalhe é um desmancha-prazeres; a interrogação, um espetáculo.
O percurso fez-se em três actos.
Bürger começou nas feiras de província, entre salsichas, barracas de tiros e fanfarras. Descobriu cedo que a plateia não queria respostas; queria frases com legenda pronta a partilhar. Disse, por exemplo: “O orçamento é como uma par de calças: se não serve, faz- se uns calções.” Um conselheiro levantou o sobrolho, mas não havia sobrolho suficientemente alto para........
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