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A morte de Daniel

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10.05.2025

Daniel Kahneman, prémio Nobel da Economia, faleceu a 27 de Março de 2024. Mas só agora soubemos que faleceu por suicídio assistido. A razão? Sentiu que “era tempo de partir”, conforme explicou num email enviado a Katarzyna de Lazari-Radek e Peter Singer dias antes da data que o próprio havia escolhido para colocar fim à vida, tornado público no artigo que estes publicaram no New York Times.

Aos 90 anos de idade, com uma carreira notável, Daniel Kahneman, não estando obviamente no primor da vida, estava ainda bastante saudável e lúcido. O momento “para partir” foi por isso decidido, a fazer fé no testemunho do próprio, com base em noções vagas e ambíguas: a ideia de que a vida se completou e que é tempo, aos 90 anos de idade, de evitar as “misérias e indignidades dos últimos anos de vida”. Não sabemos como é que alguém determina o momento em que a sua vida ficou completa; também não sabemos que misérias e indignidades caracterizam os últimos anos de vida, a não ser, claro, que classifiquemos como indigna e miserável uma vida dependente dos cuidados de outros.

E é sobre esta definição de “outros” que talvez valha a pena reflectirmos. Que “outros” são esses? A família ou cuidadores profissionais? No seu artigo, Katarzyna de Lazari-Radek e Peter Singer referem estudos que apontam para alguns factos preocupantes: 42% dos que pediram suicídio assistido sentem que são um fardo para os seus; 89% referem que não têm autonomia; 88% afirmam que não têm actividades que tornem a vida agradável; e 64% afirmam terem perdido a dignidade. A solidão na velhice, a ausência de “outros” que não os cuidadores profissionais, é também um problema já tratado de forma exaustiva em vários estudos. Tudo parece concorrer para a conclusão de que a substituição dos “outros-família” pelos........

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