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Crescei e multiplicai-vos!

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30.08.2025

Nenhuma política pública impulsiona a natalidade de forma minimamente significativa e sustentada. Ao contrário do que fica bem dizer a qualquer pessoa preocupada com o envelhecimento e contracção da população, resulta evidente das inúmeras experiências internacionais que subsídios directos, créditos fiscais, licenças de maternidade e parentais remuneradas, pagamentos de creches, ajudas de custo ou tarifas mais baixas nos transportes públicos, por exemplo, têm impacto despiciendo e limitado no aumento do número de nascimentos de bebés. Ninguém tem filhos por incentivo dos decisores políticos. Políticas deste tipo, além de ineficazes, são provavelmente contraproducentes.

A narrativa dominante sobre o colapso demográfico é a de que se trata de um problema eminentemente económico, e os demagogos recentes chegam a referir o aumento do custo de vida ou os preços elevados da habitação como elementos primordiais da questão. Porém, é curioso notar que a realidade não é diferente em países com populações de elevados rendimentos, assim como com generosas e a alargadas redes de apoios sociais.

Há muitas décadas que em todo o mundo Ocidental se assiste a uma forte quebra da natalidade. Mesmo os países menos desenvolvidos convergem muito rapidamente para baixas taxas de substituição populacional, quando não mesmo já próximas de negativas.

Ora, o crescimento económico leva a uma menor necessidade de mão-de-obra na família, os programas do Estado Social a uma menor necessidade de assegurar apoio familiar na velhice, e as técnicas de controlo da natalidade permitem formar casais sem ter filhos. Aliás, nos tempos actuais não é sequer “preciso” o casamento para constituir família.

As razões para os casais procriarem já não se prendem com a “necessidade” ou “utilidade” de ter filhos, antes dependem de avaliações e considerações de outra ordem e natureza. Hoje, o desejo de ter filhos surge grosso modo por uma de duas vias: ou como última etapa de uma série de conquistas pessoais, mais tarde na vida, numa atitude autorreflexiva e quase hedonista; ou a partir de um modo de vida que valoriza o espiritual ou o religioso, em que os filhos são vistos como uma bênção de Deus, expressões da bondade divina, intrinsecamente valiosos e em que se considera que a vida se vive para se estar disponível a gerar novas vidas.

Mas talvez a análise do problema demográfico das nossas sociedades seja mais rica e reveladora se em vez procurarmos obter respostas sobre porque é que as pessoas não têm filhos, tivermos antes um ponto de vista mais etnográfico e investigarmos as razões e motivações humanas pelas quais as pessoas têm filhos e o que leva uma minoria de pais a terem muitos filhos.

Foi para conhecer melhor essa raiz cultural funda da questão que Catherine Pakaluk escreveu o livro Hannah’s Children: The Women Quietly Defying the Birth Dearth. Esta economista formada em Harvard, professora universitária, ela própria mãe de oito crianças (e mais seis por casamento) desenvolveu um trabalho de investigação académica que consistiu em entrevistar 55 mulheres com formação superior, com pelo menos 5 filhos, vivendo em várias regiões dos EUA e........

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