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Uma aventura no SNS

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10.08.2025

Pre scriptum. Na minha época de universitária uma das minhas companheiras de casa estava a tirar um curso de gestão hospitalar. O tutor dela, médico, antigo ministro, catedrático, pessoa reputadíssima na área da saúde, ensinou-lhe “que o maior problema do sistema é que quem decide sobre o sistema não frequenta o sistema”.

Sentia um ardor no estômago e no tórax há uns meses. Durante umas ecografias de rotina, detetaram-me lesões no fígado de natureza indeterminada.

A médica que me examinava perguntou quando veria o meu internista.

– “Daqui a um mês”.

– “Não pode ser, tem de antecipar” e escreveu o relatório em que prescrevia necessidade de avaliação mais apurada através de TAC ou ressonância.

Claro que a dor imediatamente agravou e um historial de saúde familiar paterno complicado no estômago e pâncreas fez o resto.

O internista estava de férias, a cobertura do ambulatório esgotou, liguei para a linha Saúde 24, 58 minutos à espera. Atendem, mandam ligar outra vez e escolher outra opção, não passam chamadas internamente. Ligo, atendem, não é esta a opção certa, “- mas a sua colega disse que sim”, “- mas não”, desligo, volto a ligar, volto à opção inicial. Expus a situação outra vez, perguntam-me se estou no meu distrito, nem quero saber o que isso quer dizer, imagino que a Saúde 24 atua como se todos os distritos fossem Lisboa, ligados por comboios, autocarros, barcos, tenham uber e táxis a toda a hora. Marcam-me consulta no meu centro de saúde nessa mesma tarde.

O médico de turno viu o relatório e prescreveu duas TACs porque os centros de saúde não podem prescrever ressonâncias (sic), para isso tem de ir a uma consulta da especialidade que pode demorar um ano, sei lá, muito tempo (sic). Quando tiver o resultado das TACs faz como fez hoje, liga à Saúde 24 para marcar nova consulta (sic outra vez).

“- Outra vez? Mais uma hora à espera”?

“- Está aqui e a consulta é de borla”

“- De borla, não. Pago impostos”.

Não tenho médica de família. A minha reformou-se há uns meses, há tantos quantos há um substituto nomeado que ninguém quer explicar porque ainda não está ali a trabalhar.

Fiz as TACs dois dias depois e no relatório o médico concluiu que tinha lesões quísticas no pâncreas, de tamanho considerável, sem evidentes worrysome features por esta técnica de imagem, recomendando-se avaliação por ressonância.

Nova chamada para a Saúde 24, explico isto tudo, encaminha-me para a urgência do hospital.

Entro na urgência depois do meio-dia, sou triada depois da uma, mostro as TACs, o enfermeiro lê o relatório e diz-me que “quem procura acha”, põe-me uma pulseira amarela, sou uma........

© Observador