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A arte portuguesa do barroco «aquático» e «telúrico»

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11.07.2025

A identidade de um povo também se manifesta através da sua arte. Nunca será demais exaltar a nossa arte manuelina da expansão marítima nos séculos XV e XVI e a nossa arte barroca dos séculos XVII e XVIII em coexistência com outros estilos autóctones, como o «estilo nacional» relativo à talha ou o «estilo joanino» para a arte cortesã de D. João V.

Gosto de pensar que a palavra «barroco» tem origem em Garcia de Orta, quando nos Colóquios dos Simples se refere a «huns barrocos mal afeiçoados e não redondos» e traduz o resultado lógico da semântica popular para se referir às zonas pedregosas de feição irregular. O barroco é considerado por Eugenio d’Ors, como uma criação ibérica que valoriza na arte o movimento da natureza e da concretude da existência espiritual e despreza a representação do ideal estático, inane e vazio. É a arte rústica da pedra granítica e da terra argilosa em que afundamos as raízes do nosso pensamento atlântico. É a arte filigrana do calcário e do lioz em que delineamos os contornos do nosso sentimento saudoso.

Garcia de Orta (1501-1568)

Teríamos em contexto ibérico a arte aquática do Manuelino português e a arte telúrica do Barroco espanhol, que surge mais tardiamente no reinado dos Filipes em Portugal, quando os Jerónimos e Tomar mostravam um caminho inédito para a arte. Nesta expressão artística a figuração da natureza realiza-se mais pelo recurso ao elemento sólido da terra, dinamizada pela imagética do impulso telúrico e vegetalista. Trata-se do barroco jesuítico que teremos mais tarde em Portugal nos séculos XVII e XVIII, como contributo original da crítica romana contra-reformista e da crítica à paganização renascentista veiculada pelo regresso às configurações míticas e mágicas do real e veiculada pelas tendências secularizantes de absoluta autonomia do homem e da arte.

Para o séc. XIX de Garrett a Herculano e a Oliveira Martins, o barroco é sinal de decadência em........

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