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Eu tenho o direito de gostar de tourada

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31.08.2025

Morreu um forcado que escolheu, dentro da sua liberdade, sê-lo. E se assim escolheu, certamente o fez em consciência pelo amor à arte do toureiro, pela sua cultura, pela sua comunidade, ou por qualquer motivo que não nos diz respeito.

A sua morte levou imediatamente os moralistas de serviço a sentirem arrepios e virem para a arena pública protestar contra a tourada.

O sangue chamou a censura e a tragédia tornou-se argumento para o fim da tourada como se a morte fosse sempre prova suficiente de que a tradição deve ser condenada. Mas a verdade que não é dita é que ao condenar a tradição estar-se-à a condenar diretamente aqueles que amam a arte e a liberdade de escolher amar essa mesma arte.

Curioso é que o mesmo raciocínio não se aplica a outras formas culturais de risco. Morre um alpinista? Silêncio. Morre um piloto de rali? Nadinha. Talvez um ligeiro suspiro na imprensa. Mas morre um forcado, e eis que renasce a cruzada moral urbana: “Proíbam isto já!”.

O risco incomoda porque é visível, porque não se esconde atrás de filtros de Instagram ou de uma embalagenzinha higiénica de supermercado. O problema nunca foi o touro, nem o forcado, nem a tradição. O problema é — e sempre será — o gosto. E como sempre, surge uma determinada elite cultural, pronta para salvar o povo de si próprio.

Decidem o que é “aceitável”, impõem censuras subtis ou explícitas e, entre um tweet e outro, fingem que defendem a moral pública enquanto ignoram o abate industrial de milhões de animais em silêncio absoluto. Ironia, querida ironia: defendem a vida do touro na arena, mas ignoram o massacre diário nos matadouros do país.

O........

© Observador