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Às vezes me espanto, outras me envergonho

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30.07.2025

José Pacheco Pereira é um historiador de excelência, com obras publicadas de grande qualidade, como a biografia de Álvaro Cunhal. A associação Ephemera é um parente privado e selvagem da Torre do Tombo, que merece todos os elogios e que é de inegável interesse público. Isto significa duas coisas: Pacheco Pereira é ótimo a relatar e preservar o passado e é péssimo nas leituras que faz da atualidade, quase sempre toldado por uma irritação permanente com o jornalismo, os jornalistas e os seus ódios de estimação.

José Pacheco Pereira escreveu um artigo no jornal Público onde denuncia (ou melhor, decreta — porque como deus máximo do Intelectualismo, não exprime opiniões, mas dogmas) aquilo que chama de projeto político do Observador. Na cabeça do historiador, há uma mão invisível que controla um plano mais abrangente, que pretende manipular a opinião pública em torno de uma agenda da direita dura. Sugere, pelo meio, que os jornalistas do Observador são meros peões ao serviço dos lóbis dos acionistas e da chamada direita Observador (conceito utilizado pela bolha e em breve certamente ensinada nos cursos de Ciência Política). Incha, Tocqueville, esta não conheces tu.

No delírio do historiador — ao nível dos Iluminati, do homem não ter pisado a Lua, do Elvis estar vivo ou de uma versão da Conquista do Pão escrita por Joana Amaral Dias — os outros órgãos de comunicação, em particular as televisões, ajudam o Observador a espalhar os tentáculos da sua influência. Pacheco Pereira diz, nesse mesmo artigo do Público, que as mesmas pessoas que comentam nos programas da manhã na Rádio Observador vão depois ao longo do dia às televisões, quais “falcões” (estilo The Birds, do Hitchcock) destruir em direto pombinhas do PS.

Participo muitas vezes nas manhãs da Rádio Observador e há cerca de dois anos que comento, como convidado, de forma regular num dos canais noticiosos. Não me arrogo do direito de me autoproclamar falcão, até porque suspeito que Pacheco Pereira não faz ideia de quem sou. E está tudo bem com isso. Também não lhe estou a responder em nome do Observador, nem de ninguém, com este artigo — porque necessitaria de autoridade para isso, que não tenho. Nem sequer espaço. Nesta coluna, sou o único responsável pelo que escrevo. Pode parecer estranho a Pacheco Pereira, mas os colunistas do Observador não articulam entre si o que escrevem ou deixam de escrever. Nem os da rádio, muitos deles em comum, concertam o que dizem. Aliás, sobre os ataques constantes ao Observador, o publisher José Manuel Fernandes respondeu, de forma oportuna e na medida certa, ao José Pacheco Pereira, num artigo que lhe dispensaria umas quantas sessões de terapia. É de 2021, mas continua atual.

Porque escrevo, afinal, sobre isto? É que José Pacheco Pereira nesta e noutras ocasiões faz uma confusão de conceitos que, de forma propositada ou não, podem levar os mais distraídos a pensar que tem razão. O historiador........

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