PS em risco nas autárquicas
A situação do Partido Socialista perante as próximas eleições autárquicas revela um paradoxo curioso: apesar de ser o maior partido autárquico do país, com cerca de 60 mil militantes inscritos e uma expressão territorial nacional sem paralelo, o PS enfrenta hoje limitações inéditas na sua capacidade de preencher listas autárquicas completas em todo o território.
Os números são claros: para apresentar listas em todas as autarquias, o partido precisa de cerca de 36 a 40 mil nomes, considerando titulares e suplentes para câmaras, assembleias municipais e, sobretudo, com paridade de sexos para as mais de 3.259 freguesias do país. Ora, esta quantidade corresponde quase exatamente à quantidade de militantes que têm quotas em dia e, destes, nem todos estão disponíveis, elegíveis ou sequer interessados em integrar listas. Isto vai obrigar o partido a recorrer sistematicamente a independentes, coligações e simpatizantes, sobretudo nas freguesias mais pequenas ou onde a sua base de militantes (cada vez mais erodida) está menos mobilizada.
Na prática, isto significa que, pela primeira vez na sua história, o PS não consegue garantir listas exclusivamente compostas por militantes em todas as autarquias. Este facto é agravado pelas quotas de paridade de género, que obrigam a uma renovação constante e dificultam ainda mais o preenchimento das listas em freguesias com militância reduzida ou desequilibrada em termos de género.
A solução tem passado até agora por uma espécie de “engenharia geográfica eleitoral interna”: deslocação de militantes excedentários de umas freguesias para outras, negociações locais para incluir independentes, e até apoio a movimentos locais em vez de listas próprias. Casos como o da Batalha em 2021, onde o PS não apresentou lista direta, ou as dificuldades sentidas em bastiões históricos como Porto, Funchal ou Almada, são exemplos concretos de uma realidade que se pode agravar em 2025.
Além disso, a renovação forçada em cerca de 50 câmaras onde os presidentes socialistas não podem recandidatar-se, e as disputas internas em grandes autarquias como Lisboa, Porto, Sintra e Gaia, mostram um partido que, apesar da sua dimensão,........
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