Saúde: entre o orgulho do público e a sedução do privado
Vivemos tempos em que a saúde deixou de ser apenas uma questão clínica para se tornar um tema central do debate social e político. Em Portugal, a coexistência entre o setor público — representado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) — e o setor privado levanta uma questão cada vez mais urgente: para onde estamos a caminhar? E, mais importante, quem será deixado para trás?
Como cidadão, utente, enfermeiro e observador atento da realidade nacional, não posso deixar de sentir um misto de orgulho e inquietação. Orgulho por tudo o que o SNS representa — uma conquista civilizacional, símbolo de igualdade de acesso e justiça social. Inquietação pelas suas fragilidades, que se acentuam ano após ano, e pela crescente dependência de alternativas privadas que não estão ao alcance de todos.
Criado em 1979, o SNS foi responsável por avanços extraordinários na saúde pública: a esperança média de vida em Portugal aumentou de 70,3 anos em 1980 para 82,2 anos em 2023(1); a mortalidade infantil caiu de 24,3 por mil nados vivos em 1980 para apenas 2,5 em 2023(1). Estas conquistas são inegáveis.
Contudo, o........
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