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O peso do trabalho e a leveza do património

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23.09.2025

A Maria (*) tem dois empregos. Começa o primeiro às 5h30 da manhã e trabalha até às 12h30. De seguida, inicia o segundo emprego das 13h30 às 20h30, com uma hora de intervalo a meio desse turno. Do primeiro emprego recebe €1400 brutos mensais e, no segundo, consegue somar mais €900. Contudo, nem os empregadores pagam apenas esse valor pelo seu trabalho, nem a Maria recebe essa quantia. As suas 13 horas de trabalho diário representam, na realidade, um valor económico mensal de €2846, montante que os empregadores efetivamente desembolsam durante 14 meses, sendo que a diferença vai para a Segurança Social.

No entanto, desses €2846 desembolsados pelos empregadores, a Maria leva para casa apenas €1657 por mês, já depois dos descontos para a Segurança Social e para o IRS. O mais impressionante é perceber que, do segundo emprego, de todo o valor que a Maria gera com o seu esforço adicional, o Estado apropria-se de 50%!

Apesar de tanto esforço — e até de um rendimento acima da média —, a Maria vê-se obrigada a gastar €1100 mensalmente para arrendar um T1 (com uma pequena dedução já refletida no IRS). Acrescenta-se ainda cerca de €450 em despesas domésticas e alimentação, mais €250 com transportes e automóvel, bem como despesas ocasionais com saúde ou vestuário que rondam os €150. Subtraindo estes encargos ao rendimento líquido, ao fim do ano – mesmo com o subsídio de férias e Natal, a Maria não consegue amealhar praticamente nada. A Maria pensa em ter filhos? Gostava mas não consegue, pois apesar dos seus dois empregos não consegue ter qualquer folga no orçamento. E importa dizer que a redução nos impostos por ter filhos seria quase nula – uma dedução específica anual de €726! E tem Portugal uma das mais baixas taxas de natalidade da Europa…

Porque é que, apesar de tanto empenho e vontade de progredir, a Maria não consegue melhorar a sua vida pelo seu trabalho? A esta pergunta os partidos de Esquerda respondem que a Maria deve pagar estes impostos porque, afinal, é “rica” ou “privilegiada”, pois o seu rendimento está acima da média. Mas será? Claramente não é o caso.

Quem verdadeiramente se pode considerar rico é o senhorio da Maria, o Ricardo, a quem os pais deixaram quatro apartamentos. O Ricardo escolheu não trabalhar: prefere passar o tempo a surfar e a conviver com os amigos. Vive num dos apartamentos e aluga os outros três. Cada apartamento, incluindo o arrendado à Maria, rende €1100 por mês, resultando num valor anual muito semelhante ao que a Maria consegue criar com o seu trabalho árduo. E quanto paga o Ricardo em impostos e taxas sobre o que tem e o que ganha?

Os 4 apartamentos, construídos nos anos 70, valem hoje cerca de €1.200.000, mas para efeitos de IMI têm um valor patrimonial........

© Observador