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Vivemos de e em urgência: o corpo político do SNS

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15.11.2025

Há um colega que muito respeito que costuma dizer: “Ter memória é muito importante, mas incomoda e muito.” Não está aqui a reprodução literal, porque é do Porto, dos seus sete costados, e a expressão é intraduzível sem o sotaque e o vernáculo, mas a ideia é certeira.

A memória incomoda, sim, e é precisamente por isso que é indispensável. Neste tema, não podemos nem devemos evitá-la. Importa recordar como Portugal era antes e o que se tornou depois do Serviço Nacional de Saúde.

O SNS é, talvez, a mais consequente reforma social da democracia portuguesa. Criado em 1979, inspirado no modelo britânico do National Health Service, assentou num princípio simples: a saúde é um direito universal, não uma mercadoria.

Essa escolha política alterou profundamente a estrutura de um país atrasado, mesquinho e tacanho, muito à semelhança do Estado Novo. Reduziu as desigualdades e consolidou o Estado social. Essa invenção, tão distante dos nossos pensamentos nos anos 60, foi sonhada e desenhada por um dos filhos pródigos de homens grandes, António Arnaut, que, com a ajuda de tantos outros, criou algo e conquistou aquilo que hoje damos por garantido. Mas voltemos à história.

Antes da criação do SNS, metade da população portuguesa não tinha médico de família e o acesso aos cuidados hospitalares dependia, muitas vezes, da filiação laboral ou da caridade institucional.

Em 1974, a esperança média de vida era de 67 anos. Hoje, ultrapassa os 81 (OCDE, 2023). A mortalidade infantil caiu de 37 para menos de 3 por mil nados vivos (Eurostat, 2023), e a cobertura vacinal atinge valores superiores a 95 %, dados comparáveis aos dos melhores sistemas mundiais. Estes resultados não decorrem do mercado nem da tecnologia, mas da decisão política de construir um sistema público, universal e solidário.

Contudo, ao fim de quase meio século, o SNS revela sinais de........

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