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Traços elementares do racionalismo cartesiano (parte I)

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09.08.2025

A filosofia cartesiana assinala um ponto de viragem na história do pensamento ocidental. Contrariando um pressuposto partilhado pela maioria dos pensadores renascentistas, Descartes não partiu da credulidade espontânea e acrítica sobre o funcionamento da natureza, nem evidenciou, tampouco, a mesma reverência que os seus contemporâneos face à filosofia clássica. Motivado pela Revolução Científica em curso e pela necessidade de refutar o ceticismo radical, o seu principal escopo assentava na criação de um sistema filosófico que fosse capaz de ancorar os recentes progressos na área da física.

Descartes procurou, então, estabelecer um método que lhe permitisse proceder a uma distinção objetiva entre o que é falso e o que é verdadeiro. Note-se, que certas nuances metodológicas oriundas da filosofia medieval ainda perduravam na época em que completara a sua formação académica. Tendo estudado seis anos no colégio dos jesuítas, em La Flèche, onde imperava um paradigma de ensino preponderantemente escolástico, o filósofo francês evidenciaria posteriormente o seu descontentamento face ao modelo das disputationes. Era inquebrantável a sua convicção de que tudo aquilo que possui um caráter incerto é incongruente com a ciência, pois que esta carece de um método que viabilize a perceção da ocorrência de erros.

Importa lembrar que a escolástica se desenvolveu em estreita relação com o aristotelismo, herdando, entre muitas outras coisas, a sua física; a física aristotélica contemplava uma noção qualitativa do ser, designando de “forma substancial” o princípio interno de onde brota a ação de um corpo, ou seja, o seu movimento. Por seu turno, no sistema cartesiano o cosmos é interpretado como uma espécie de extensão algorítmica, pelo que todos os........

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