Malebranche e Espinosa em diálogo com o cartesianismo
Gostaria, antes de mais, de advertir o leitor para a necessidade de se confrontar com o artigo precedente (“Traços elementares do racionalismo cartesiano”), por forma a compreender consentaneamente o teor da presente exposição argumentativa.
Com a difusão do cartesianismo, a discussão filosófica sobre o conceito de substância adensou-se, influenciando profundamente o pensamento reflexivo nos séculos XVII e XVIII. Trata-se, pois, de uma problemática que desempenha um papel central na construção da filosofia moderna, e que não deixa de se relacionar de forma íntima com a teologia cristã.
Nicolas Malebranche, filósofo e teólogo francês cuja obra procura sintetizar as doutrinas de Santo Agostinho e de Descartes, corrobora a ideia de que a perenidade do mundo depende do “concurso ordinário de Deus.” Amplamente disseminada na medievalidade, esta tese baseia-se na conceção de que o universo foi criado por Deus e que, nesse sentido, a conservação do cosmos carece da ação contínua do Criador; em síntese, se a vontade divina se alterasse, ou seja, se Deus deixasse de querer que a sua Criação permanecesse tal como é, o mundo obliterar-se-ia nesse mesmo instante.
Porém, enquanto no cartesianismo este princípio é aplicado somente à noção de........
© Observador
