Sectarismo ou sabedoria?
No passado mês de Junho aconteceu algo de caricato na política autárquica espanhola. Os deputados do partido Más Madrid (um partido de esquerda) apresentaram uma proposta na assembleia municipal sobre o combate às ondas de calor. Os deputados da direita, do PP (o partido no poder em Madrid), esmagaram a proposta dizendo que esta se baseava no “pânico e no alarme social, típicas da esquerda”. Mas logo o deputado Pablo Padilla (Más Madrid) tomou a palavra e explicou: a proposta que tinha apresentado era uma cópia, ipsis verbis, de uma resolução do PP apresentada no Senado.
Porque é que o deputado do PP rejeitou tão liminarmente a proposta do seu próprio partido? Por incúria, certamente, mas sobretudo porque o que interessa hoje, no combate político, é destruir o adversário e não tanto apresentar propostas que de facto interessem aos cidadãos. E a tentação do sectarismo é tanto mais forte quando se está no poder, que é difícil de manter.
O mesmo fenómeno se verifica deste lado da fronteira, também na política local. O incumbente da Câmara Municipal de Lisboa, desde bem antes da tragédia do elevador da Glória, adoptou um estilo agressivo para com os seus adversários e – podemos até dizê-lo – populista, sem grande preocupação com a verdade. Moedas desdobra-se em acusações de “radicalismo” dos seus adversários, convertendo-os em verdadeiros inimigos (com excepção do Chega), e repete que só não pôde resolver os problemas de Lisboa por causa dos anos de “socialismo” antes dele e do suposto bloqueio da oposição, quando na verdade teve a maioria........
© Observador
