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Homero e as sereias de Tim Buckley

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A primeira vez que a palavra “análise” aparece no mundo grego é no verso 200 do Livro XII da Odisseia de Homero. Ulisses é desatado —ανέλυσαν— das suas amarras —ἐκ δεσμῶν— por Euríloco e Perimedes, cujos ouvidos estão tapados com cera previamente cortada com uma faca de bronze de um favo de mel.

Um vulgar cargueiro, igual a tantos outros, cruzava desde 1919, ano em que foi lançado ao mar nos estaleiros da Filadélfia, o Atlântico de cabo a rabo, transportando mercancia sortida. Ao longo dos anos, dependendo da companhia para a qual prestava serviço, o casco preto e marfim mudara muitas vezes de nome e de cor.

Na primavera de 1941, o Robin Moor, assim se chamava o navio, transportava, em nome da Seas Shipping Co. de Nova York, uma carga rumo a Moçambique: para além de quatrocentos e cinquenta automóveis, carris destinados às novíssimas ferrovias, ferramentas, máquinas agrícolas, quase duzentos e vinte mil litros de lubrificante em barris, pólvora e espingardas de caça, o Robin Moor transportava também quarenta e seis almas: nove oficiais, vinte e nove tripulantes e oito miseráveis civis ​​que nem conseguiram pagar a tarifa de uma qualquer terceira ou quarta classe, muito mais cómoda num qualquer navio de passageiros.

Embora naquela ocasião, em plena Segunda Guerra Mundial, hasteasse a bandeira de um Estado neutral, o Robin Moor foi atingido a 21 de maio de 1941 por um submarino alemão, a 750 milhas do porto inglês de Freetown, na Serra Leoa. Os soldados alemães apreenderam as armas no porão e, depois de manterem os passageiros reféns por um dia inteiro, abandonaram o navio torpedeado à sua sorte, em alto mar. Fizeram questão de lançar aos sobreviventes – por uma daquelas ironias que todos nós conhecemos e que apenas nos fazem sorrir a........

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