O dia em que Nietzsche ficou com as calças na mão
A imagem do génio, seja ele artista, escritor ou filósofo, pairando acima dos demais e fora dos problemas do quotidiano, é não só apetecível como gratificadora. Nós, os comuns dos mortais, arredados que estamos desse Mundo das Ideias, quedamos condenados a lutar neste mundo sensível, onde, em vez de conceitos abstratos, formas belas e rimas, encontramos afazeres muito mais modestos, desde a lista de compras do supermercado até à inspeção do veículo automóvel. Apesar de um estudo um pouco mais demorado contrariar esta visão, na verdade ela serve como resposta a uma ânsia que não pôde ser atendida ou que não foi correspondida – pois, qual de nós, repito, simples mortais, nunca sonhou figurar numa galeria de gigantes? Ombrear com nomes plasmados na imortalidade e que fazem parte da nossa Civilização? Se, como dizia Stuart Mill, mais vale um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito, a verdade (pelo menos, a que nos convém) é que sem os tolos a engrenagem rompia e a máquina parava: com esta dureza, respondemos aos génios, ou seja, sem a nossa parte, mais triste, mecânica e monótona, não existiriam os Aristóteles, os Picassos e os Eças.
A suportar esta peculiar conceção, registam-se casos anedóticos que, se não correspondem à realidade histórica, no mínimo oferecem-lhe os contornos. Então, não é que Tales, nada........
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