Afinal de quantos Salazares precisamos?
1 Quis a evolução e a genética, na sua versão neodarwinista, juntamente com algum suposto livre-arbítrio, que eu tivesse nascido precisamente uma semana antes do 25 de Abril. Como tal, escapou-me totalmente o antes e o depois da efeméride. Não sofri as agruras da Situação nem surfei a onda revolucionária dos anos seguintes. Nasci apolítico. Hoje, olhando para trás, diria que nasci livre. Uma liberdade a priori, na qual se vive na ignorância dos atos falhados e dos recursos retóricos, absolvido da eterna e decisória pergunta – onde estavas no 25 de Abril?
Nasci na província. Uma vila demasiado perto do Porto para ganhar independência e demasiado afastada da capital para lhe concederem importância. Segundo me testemunharam, as convulsões do PREC não chegaram ali. Soldados barbudos e armas em punho permaneceram estranhas e não machucaram a natural apatia gondomarense. Em casa e no colégio não se mencionavam as emoções e a convulsão dos tempos. Salazar, Cunhal, Marx, permaneciam na sombra dos meus estudos académicos e, como consequência natural de ter vindo à luz numa família despolitizada, anónimos. Foi muito mais tarde que, num processo autodidata, enveredei pelo estudo das coisas políticas.
Percebi então que podemos nascer ricos e defender os pobres e nascer pobres e defender os ricos. A comunicação social, pelo menos, assim versava, e, na verdade, não aparecia vivalma para a contrariar. A dialética parecia-me imparável e, sendo de família financeiramente mediana, ficava agradado por gente mais bem posicionada fizesse caso de mim. Parecia claro que de um lado estavam os bons e do outro encontravam-se os maus. Ser ou denominar-se interclassista soava-me a ficar em cima do muro – e tal era, a todos os títulos, reprovável.
Assim, só anos depois me perguntei – onde está a Direita? Pois era evidente que não havia nem partido, nem movimento, nem indivíduo que se assumisse como fazendo parte ou revendo-se nessa parte do espectro político. Havia que resgatar o passado, o passado histórico, um outro mundo de uma outra época, dir-se-ia jurássica, para lhe vislumbrar o perfil. Não havia ninguém que respondesse por ela no presente. Ficava certo amargo de boca ao tentar ouvir ou ler sobre o tema, demasiadas reticências, manobras de bastidores e escusas. Os mais simpáticos e generosos sorriam pesadamente perante o tópico; os mais sorumbáticos, largavam vitupérios – mas todos escusavam o tema.
A nível institucional e partidário, principalmente da parte de uma determinada esquerda, quando se pretendia atacar alguma posição ou personalidade particularmente incómodas, escutava-se das suas bocas um salazarento ou um reacionário. Pouco mais.
Estava-se desta forma num limbo de maledicência e má-fama, com timbres de malvadez. Não se podia ter dúvidas: o Estado Novo era de má índole. Essa nota era reforçada e colocada mais a nu nas comemorações do evento fundador do regime, altura em que as chagas se davam a ver e os gritos de indignação aumentavam de volume. Aí apareciam a tortura, a violência, a PIDE, a........





















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