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“Por dentro do Chega”, de Miguel Carvalho

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02.10.2025

Na sua obra On Murder, Considered as One of the Fine Arts, Thomas de Quincey relata um acontecimento algo insólito na vida de René Descartes. A vários títulos esse evento é apelativo, sob vários prismas contém em si ensinamentos, e, se para um estudante não se granjearão daí consideráveis auxílios para passar a barra do exame, ao profissional, seja qual for o seu métier, proporcionará, no mínimo, um divertimento, e, inclusivamente, se for um homem de letras ou então dedicado à causa pública, então retirará, estou em crer, interessantes dividendos.

Descartes, como incansável viajante, explorava as terras do Elba, muito provavelmente Gluckstadt ou Hamburgo, e procurava acercar-se de Friezland Este. Conforme assegura de Quincey, o francês terá tido dúvidas em relação ao seu destino, o que o levou, mal atingiu Embden, a resolver-se por Friezland Oeste. Sempre impaciente, decidiu apanhar uma embarcação, pilotada por alguns marujos. Mal desconfiou que tinha acabado de se entregar a um pequeno bando de assassinos, e de assassinos profissionais. Estes, percebendo as sóbrias maneiras e subtis maneirismos, o delicado trato e as belas vestimentas, tentaram aliviá-lo dos seus pertences para, em seguida, desfazerem-se do corpo nas águas. Para surpresa dos meliantes, Descartes, qual javali cercado, atirou-se (talvez aqui exagere, contudo, enfrentou com coragem e algum ímpeto) aos predadores que, perante tamanha fúria e desenvoltura, cedo se arrependeram da empresa e, calmamente, voltaram a concentrar-se nos mais seguros meios marítimos. O autor inglês, com o seu habitual humor, chama a atenção para o facto de, tendo conseguido largar o francês ao famoso rio, não teríamos o Discurso do Método nem as Meditações.

Os piratas, quais anticartesianos acidentais,........

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