"As Cartas do Boom"
À sua maneira vivaça, Borges afirmou que a melhor obra de Flaubert era o seu epistolário. Não será certamente o caso com os quatros epistoleiros deste livro: Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Todos possuem uma obra rica e diversificada que os coloca no topo da lista (se lista houver) dos melhores escritores do século XX. Contudo, a sua troca de correspondência revela-se fundamental para melhor receber e explorar a respetiva produção literária.
As Cartas do Boom, livro que este ano deu à costa nas livrarias nacionais, é constituído pela totalidade das cartas (salvo esconderijo alheio) que os quatro trocaram entre si. Estamos a falar de 207 peças (a primeira carta data de 16 de novembro de 1955 e a última de 14 de março de 2012), onde pontuam residualmente, aqui e ali, postais, telegramas e faxes. Os editores propuseram como critérios para a constituição oficial (havia outros autores possíveis) deste Boom: «1) escreveram romances totalizantes, 2) forjaram uma sólida amizade entre si, 3) partilharam uma vocação política e 4) os seus livros tiveram uma ampla difusão e impacto a nível internacional». Na nossa abordagem não iremos analisar de per si nenhum destes tópicos, com os quais, de resto, estamos de acordo, antes tentaremos disponibilizar uma determinada perspetiva de leitura da obra, perspetiva essa que não poderá ser senão em escorço.
Assim, os quatro autores constituem o núcleo do que a certa altura começou a denominar-se o Boom da literatura latino-americana. Constituído por obras (romances e contos) que, grosso modo, se encontram no intervalo 1959-1975, o Boom pode considerar-se um movimento inicialmente lateral e regional que com o passar dos anos e das muitas milhares de páginas se tornou um fenómeno literário à escala ocidental. Segundo os........
© Observador
