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Portugal e a antiguidade dos sefarditas

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08.08.2025

É longa, possivelmente de mais de dois milénios, a presença judaica no que hoje é o território português. Inevitavelmente, esta espessura histórica teria de marcar de forma muito clara as populações que hoje habitam esse mesmo espaço, dando material para o campo identitário.

Contudo, o caminho do tempo não foi simples e linear e, no Portugal contemporâneo, essa inevitável memória não é nada pacífica. É um desconforto que radica numa dificuldade em definir se os judeus sefarditas somos “nós” ou se são “eles”, vindo de séculos de perseguição que tentaram apagar os traços identitários do judaísmo sefardita da nossa cultura.

Percebemos esta tensão no campo do adagiário. Como que num inconsciente coletivo, os ditados populares são uma marca do que se consolidou ao longo dos séculos como perceção e representação. “Trabalhar que nem um mouro” ou “fazer judiarias” são dois exemplos de como a cultura popular portuguesa consignou chaves de intolerância na memória coletiva, uma em relação aos muçulmanos, outra aos judeus.

Socialmente, um provérbio é a imagem de um tempo longo, de um tecido social com pouca mudança. O caso do judaísmo é, possivelmente, o caso mais significativo em Portugal. Se o “fazer judiarias” revela uma imagem negativa, um outro adágio, “andar com o credo na boca”, mostra como o medo dos critpo-judeus em serem apanhados sem saber a oração do Credo, não conseguindo provar que eram bons cristãos, passou para o tecido social, sem mácula da minoria supostamente indesejada e caricaturada – saber o Credo por forma a recitá-lo imediatamente, passou a ser imagem de um medo endémico numa população habituada a inquisições e polícias políticas. Neste caso, o todo do........

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