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O fanatismo woke

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16.09.2025

Fanatismo woke: é assim que Manuel Maria Carrilho qualifica o pensamento woke no seu último livro, intitulado A Nova Peste: Da ideologia de género ao fanatismo woke. Dividido em oito capítulos, o livro debruça-se sobre os principais aspetos daquilo a que se tem designado como wokismo, e fá-lo com a seguinte vantagem: sem descurar as principais referências em língua inglesa, a maioria da bibliografia usada é de origem francófona. Trata-se de uma abordagem que permite colmatar uma lacuna no tratamento do tema entre nós (e de que sou também responsável), permitindo ler o fenómeno a partir da tradição continental.

É verdade que o wokismo é um fenómeno fundamentalmente norte-americano e a sua presença, em maior ou menor medida, em todos os países ocidentais é resultado de um processo de americanização. Esse processo, que começou após a II Guerra Mundial, mas que, entre nós, se tornou particularmente evidente a partir da década de 1990, tem transformado gradualmente o espaço filosófico. Hoje, os principais nomes da filosofia política vêm do mundo anglófono e o inglês é a língua com que as novas gerações se sentem mais confortáveis, o que condiciona o que é lido entre nós (como sabemos, as traduções não são abundantes).

Manuel Maria Carrilho dá, nesse sentido, um contributo importante, iluminando o problema a partir de fontes habitualmente não usadas por cá e que comprovam o impacto que estas ideias têm tido também em França. É, aliás, a essa tradição filosófica que o autor recorre para qualificar o wokismo como fanatismo, recorrendo à entrada de Alexandre Deleyre, na Encyclopédie, quando define fanatismo como resultado da ignorância, como “a superstição em ação”.

Segundo Carrilho, a expressão “fanatismo” permitiria, assim, invocar uma espécie de doença do pensamento que se aproxima da irracionalidade e que conduziria a um estado de impensar – um........

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