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A angústia económica

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18.03.2024

Um dos politólogos que mais se tem destacado na última década é Yascha Mounk, nascido na Alemanha, mas com cidadania norte-americana desde 2017. O seu trabalho anterior com Robert Foa sobre desconsolidação democrática, em particular entre as gerações mais jovens (voltaremos a este tema muito em breve), já tinha obtido reconhecimento. Mas a crescente popularidade de Mounk resulta da publicação, em 2018, do livro The People vs. Democracy: why our freedom is in danger and how to save it (traduzido entre nós como Povo vs. Democracia), que procura explicar os fenómenos populistas no rescaldo da eleição de Donald Trump.

Para essa análise, Mounk recorre a uma estratégia conceptual fundamental para compreender os nossos regimes democráticos, que é o de recordar que eles resultam do compromisso entre dois elementos: um elemento democrático, que se baseia na soberania e na vontade popular, e um elemento liberal, que se traduz numa dimensão institucional de mediação e limitação do poder político. As nossas democracias resultam, assim, da tentativa de combinar o espírito democrático antigo com os princípios modernos do liberalismo.

É fundamental recordar esta dupla dimensão, pois ela permite – e é assim que o argumento de Mounk segue – interpretar os fenómenos populistas como resultando do desequilíbrio entre estes dois elementos, nomeadamente do peso excessivo que o elemento liberal adquiriu nas últimas décadas. Pensemos na proliferação de instituições não-eleitas, na implementação de lógicas burocráticas e tecnocráticas, no aprofundamento da globalização económica, social e política – e como tudo isto vai esvaziando a possibilidade de as populações determinarem as políticas nacionais. Na verdade, os excessos liberais esvaziam a dimensão democrática, transmitindo aos cidadãos a sensação de que a sua voz não conta para o processo político e que as decisões políticas ocorrem sem, e muitas........

© Observador


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