Que cidadania para hoje?
O Governo colocou, esta semana, à consulta pública, uma definição das aprendizagens essenciais da disciplina de Cidadania. Mas só será possível comentá-las, respondendo a duas questões: 1ª) Para que serve a escola? 2ª) Que disciplina de cidadania é desejável?
A escola é um lugar de conversação, e de uma conversação que visa a aprendizagem. Podemos procurar “novas competências”, “novos métodos”, “novas linguagens”, mas, na realidade, a escola baseia-se sempre num contrato social inalienável: os professores ensinam, os alunos aprendem. E os professores ensinam não as suas opiniões, mas aquilo que, à época, se entende como conhecimento verdadeiro.
No entanto, quando dizemos que a escola deve transmitir um conhecimento verdadeiro, não podemos assumir que todo o conhecimento é verdadeiro no mesmo grau e ao mesmo tempo. Podemos dizer que “a Evolução é verdade” e que “a existência de Deus é verdade”, mas “verdade”, nos dois contextos, transmite dimensões semânticas diferentes. O mesmo se diga quando se quer conferir veracidade à factualidade do Holocausto, ou se tenta aplicar o termo “verdade” a dilemas éticos, como o aborto ou a eutanásia. Daí que a escola tem o dever de transparecer nas aprendizagens estes matizes, porque nem tudo está ao mesmo nível.
Ora, a chantagem emocional que apelida como “direito humano” quase todos os temas disputados, não contribui para isso. A escola serve, ao invés, para introduzir à complexidade do mundo. Lembro-me, a esse respeito, do meu manual de Físico-química ter, na ocasião em que falava do Big Bang,........
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