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Nomes portugueses

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27.07.2025

Caíram o Carmo e a Trindade quando o líder do segundo maior partido na Assembleia da República leu, na sessão plenária, os nomes próprios de crianças de origem estrangeira residentes em Portugal.

Políticos, comentadores e cronistas rasgaram, indignados, as suas imaculadas vestes, pois uma coisa é explicar, na creche, que há meninos que afinal são meninas e vice-versa, o que é perfeitamente normal e adequado à mentalidade de quem tem 3, 4 e 5 anos, mas é absolutamente obsceno, senão mesmo criminoso, referir nomes próprios estrangeiros de crianças imigradas no nosso país. Com efeito, antes dos seis anos, não há menor que não se questione sobre a sua identidade de género, mas ouvir – embora, decerto, nenhum deles tenha ouvido – o seu nome próprio ser pronunciado na Assembleia da República é tão traumático que, em boa hora, os apaixonados defensores da inocência infantil não tardaram em expressar, publicamente, a sua justíssima indignação por tão execrável manifestação de oportunismo político.

Sem querer desconsiderar o compungido pranto das carpideiras do regime, talvez convenha lembrar que essa sua atitude manifesta algum provincianismo, pois é prática corrente noutros países europeus. Na Bélgica, por exemplo, segundo dados recentes, nos primeiros dias dos anos 2023, 2024 e 2025, havia, respectivamente, 36 218, 37 002 e 37 698 pessoas chamadas Mohammed, o que indica uma significativa presença e paulatino crescimento das famílias muçulmanas nesse país. Não consta, contudo, que a divulgação deste dado tenha causado irreparáveis traumas nas crianças registadas com o nome do profeta.

Em outros países europeus, as estatísticas, em relação a esse nome, tipicamente islâmico, não são muito diferentes: em França, Mohamed foi o 17º nome masculino mais popular a nível nacional, e está entre os dez........

© Observador