Quando a Igreja dói por dentro
Recordo-me de um episódio que me marcou profundamente, há cerca de dez anos, durante um encontro de jovens religiosos em Fátima. Entre os muitos testemunhos que então escutei, houve um que me deixou desconcertado.
Umas jovens religiosas timorenses partilharam as dificuldades da sua vida comunitária: falavam da privação quase total de diálogo com a família, da necessidade de vestir a roupa que ninguém queria, da obrigação de poupar até na higiene mais básica, e da experiência de cozinhar sempre com o bico do fogão regulado no mínimo, como exigência de poupança.
Confesso que fiquei chocado. Parecia-me excessivo, difícil de compreender, que a vida religiosa — chamada a ser espaço de fraternidade e de testemunho evangélico — pudesse transformar-se em lugar de privação e de pequenas provações quotidianas. Contudo, fiquei calado. Não sabia como reagir. Hoje, mesmo se quisesse, não saberia identificar concretamente aquelas irmãs, mas ficou em mim a memória e, sobretudo, a inquietação. Talvez esse choque se explique pelo facto de eu nunca ter passado por uma experiência semelhante.
Com o tempo, crescendo no ministério e amadurecendo na experiência de padre, fui percebendo que a vida da Igreja, apesar da sua beleza espiritual e do testemunho que tantas vezes oferece ao mundo, também esconde fragilidades. Há nelas um misto de humanidade ferida e de mecanismos de defesa que surgem quando o amor não é suficientemente recebido nem oferecido. É nessa ausência de afeto saudável que brotam distorções: a inveja que dificulta relações, o abuso de poder que pesa, o silêncio que evita o pedido de perdão, a ingratidão que desanima, o utilitarismo que reduz a pessoa ao que faz. São realidades que conhecemos e sentimos, mesmo que delas raramente se fale em voz alta.
Entre todas, a inveja talvez seja a mais traiçoeira. Nela não há apenas um ciúme passageiro, mas uma ferida profunda que transforma irmãos em rivais. É um mal-estar que nasce quando não conseguimos aceitar que o outro brilhe. A alegria de um padre acarinhado pelo seu povo, o reconhecimento de um religioso pelo seu trabalho, o simples aplauso diante de um gesto bonito — tudo isto, em vez de gerar satisfação, pode despertar ressentimento e desejo de apagar a luz alheia. A inveja corrói por dentro, instala a suspeita, dá origem a murmurações e maledicências. E........





















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