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Como a China vence sem disparar um tiro

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26.08.2025

A China ascendeu no panorama geopolítico internacional de forma silenciosa, mas inexorável, através da aquisição de infraestruturas estratégicas, da imposição de uma homogeneidade interna férrea, da repressão sistemática de minorias étnicas e religiosas e da consolidação de um modelo económico que tornou o mundo dependente da sua produção industrial. O resultado é uma supremacia não declarada, mas já palpável.

No plano externo, a China tem conquistado influência global por via de investimentos vultuosos em infraestruturas, sobretudo em países vulneráveis. Esta estratégia, institucionalizada em 2013 com a iniciativa “Belt and Road” (Um Cinturão, Uma Rota), consiste em financiar portos, estradas, ferrovias e centrais elétricas em dezenas de países, criando corredores comerciais dominados por capital chinês. O objectivo declarado é a conectividade euroasiática; o efeito prático é a expansão da presença chinesa em ativos estratégicos, frequentemente à custa da soberania financeira dos países envolvidos.

É neste contexto que emerge o conceito de “armadilha da dívida”, cunhado pelo analista Brahma Chellaney. Trata-se de uma táctica pela qual a China financia obras gigantescas em países em desenvolvimento, que, ao acumularem dívidas impagáveis, se veem forçados a ceder controlo sobre recursos ou infraestruturas. O caso do Sri Lanka é paradigmático: incapaz de saldar uma dívida bilionária, o governo cedeu à China a concessão do Porto de Hambantota por 99 anos. Na África, esta prática é recorrente. Angola, por exemplo, contraiu mais de 45 mil milhões de dólares em financiamentos chineses entre 2000 e 2022, sendo que cerca de 40% da sua dívida externa é hoje devida à China. Países como Zâmbia e Chade enfrentaram incumprimentos financeiros e foram obrigados a renegociar os termos dos créditos chineses. Mesmo na Europa, Montenegro contraiu um empréstimo de mil milhões de dólares para construir uma autoestrada, vendo a sua dívida pública ultrapassar os 100% do PIB. O contrato prevê que, em caso de incumprimento, a China possa reclamar ativos e........

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