O talentoso Prof. Marcelo
Por estes dias, aquela estranha figura que habita o Palácio de Belém, provavelmente com o cérebro ainda escaldado pelo sol de Verão, resolveu aparecer na “universidade” da JSD com duas ideias: a primeira, uma boa notícia, é que esta seria a sua última aparição naquele evento anual uma vez que, explicou ele, após terminar o mandato presidencial, “não fica bem andar a comentar políticos e partidos políticos em eventos partidários”. Extraordinariamente, à ideia do Prof. Marcelo nunca chegou a noção que pior que um comentador ex-presidente será um presidente comentador. Ou seja, o recato e o dever de neutralidade próprios das funções de Presidente da República, segundo o próprio, forçam o Prof. Marcelo a arredar-se de aparecer nos eventos partidários da JSD, mas apenas agora que cessa essas mesmas funções. Já antes, enquanto as ocupou, e ocupa, nunca lhe ocorreu qualquer particular limitação decorrente das responsabilidades próprias do cargo — é assim como se o monge que fez um voto de silêncio, e que nunca passou um dia sem falar na vida, resolva calar-se no momento em que abandona o voto e o mosteiro.
Nada de novo, é certo, pois que trapalhada, incoerência, desconexão, contradição e dissonância cognitiva serão as grandes características de um político famoso por pensar uma coisa e o seu contrário ao mesmo tempo. Infelizmente, uma vez que já praticamente ninguém liga pevide, tremoço ou amendoim ao Prof. Marcelo, este, na ânsia de ganhar protagonismo e ainda saborear um pouco daquela exposição mediática que tanto lhe afaga o ego e satisfaz a sua necessidade infantil de ser o centro das atenções, vê-se forçado a progressivamente tornar-se mais arrojado, polémico, panfletário, nas suas confabulações. Vai daí e nesta ocasião, na impossibilidade física de fazer o pino, a espargata, ou qualquer outra cabriola, ocorreu ao senhor balbuciar que o presidente dos EUA é, e passo a citar, “um agente russo”. Ora, se impressiona a leviandade com que o chefe de estado português se refere ao líder político, não apenas da maior potência mundial, mas do mais importante aliado militar do país, algo que porventura poderá ser sinal revelador de alguma forma de diminuição intelectual, médica ou psicológica para exercer as suas funções — até que ponto não deveríamos ter o direito de saber se o chefe de estado se encontra na inteira posse das suas faculdades? —, por outro lado não deixa também de ser bastante revelador a substância da afirmação em causa.
Aqui, desde logo, importa perceber que a ideia de Donald Trump ser um agente russo não é propriamente novidade. Pelo contrário, esta acusação — mais correcto seria até chamar-lhe narrativa — nasceu em 2016, durante a recta final da campanha para as presidenciais norte-americanas pelo que, para quem siga com um mínimo de capacidade crítica a política norte-americana, esta questão é tudo menos surpresa. Primeiro, logo em 16, todo o mainstream mediático se juntou para chamar Trump de agente russo; depois, durante parte do primeiro, e inesperado, mandato Trump na Casa Branca (2016-20), baseado no célebre “dossier Steel”, muito se escreveu e falou nos EUA a favor e contra essas alegações, incluindo durante um (de dois) processos de “impeachment”, baseado, precisamente, na acusação de “conluio” e de “interferência” do governo russo nas eleições de 16, alegadamente para eleger Trump.
Mais tarde, o “impeachment” foi derrotado e, depois, já........
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