O candidato matrix
No filme de 1972, The Candidate, Robert Redford encarna um jovem idealista que, sem perspectivas reais de ganhar uma eleição para o Senado norte-americano, é convencido por um experiente director de campanha profissional a candidatar-se contra o senador incumbente, tido como invencível. Com a garantia de que, não tendo hipótese de ser eleito, poderia dizer o que lhe apetecia, de forma genuína e sem filtros, a personagem de Redford aceita o repto. A trama evolui, claro, e, a pouco e pouco, à medida que aumentam as hipóteses do candidato outsider ganhar, também aquilo que se lhe pede em termos éticos e morais começa a mudar. Ao longo do filme a história acaba focando-se na forma como existe um enorme abismo entre, por um lado, o processo de conquista do poder através da retórica, do idealismo e da boa-vontade e, pelo outro, as concessões, os compromissos e as escolhas políticas, morais e pessoais que a realidade do exercício do poder acabam por exigir.
No final, o problema do candidato passa a ser a possibilidade de vitória. Como Lenin, perante a hipótese de ser chamado a concretizar a sua retórica desprendida e genuína, o candidato pergunta-se angustiado: o que fazer? A esta pergunta, nos nossos dias e no mundo real português, também terá que responder em breve o nosso candidato moralista, solto, anti-sistema que, com timbre estridente e convicção aparentemente genuína, tem atacado o sistema político português incumbente. Infelizmente, num regime mediático onde impera o clique, a parangona e a farsa, tal pergunta tem passado relativamente despercebida, mas, em boa-verdade, a grande questão dos próximos anos políticos é mesmo esta: para além da propaganda, na prática, que significa o projecto de André Ventura para o país? Considerando a retórica anti-impostos e o anúncio desmedido de medidas caríssimas, táctica não propriamente invulgar em quem almeja chegar ao poder, onde residirá o verdadeiro compromisso de Ventura? Por enquanto, tirando uma mão cheia de ministros sombra, sobra o mistério.
Entretanto, após as últimas eleições legislativas e os célebres 23%, espíritos mais atentos e críticos talvez antecipassem que, finalmente, aquele momento de definição onde o Chega será forçado a transfigurar-se de um partido de protesto — repare-se no nome — num partido que possa, de facto, conquistar o poder, estaria para breve, e com ele, o momento “que fazer?” do candidato Robert Redford encarnado em Ventura. Só que não. Caídos do imaginário de normalidade e saúde democráticas onde Portugal não vive, quando aterrados no pântano tristonho da choldra política lusitana, sobra-nos somente a lengalenga da “extrema-direita”, “do ataque à democracia”, da indignação generalizada para com uma possibilidade que, afinal de contas, no campo dos factos, ninguém sabe sequer muito bem o que é — e a culpa de tal desconhecimento não pode ser assacada apenas a Ventura, pelo contrário, esta é sobretudo de quem cabia perguntar-lhe e exigir-lhe respostas e que se preocupa apenas em, histericamente,........





















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