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Moneyball

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17.10.2025

Quando grande parte do país esperava, ou temia, que nas últimas eleições autárquicas o Chega do Dr. Ventura fizesse tremer até as pedras da calçada de dezenas de municípios, eis senão quando a curta vitória em três singelas câmaras municipais deixou o meio político em comemorado alívio. Afinal, não, o Chega não é só vitórias atrás de vitórias até à vitória final. Afinal, dizem, o bi-partidarismo que Ventura ameaça está vivo e de grande saúde. E, concluem, é aqui, nas autarquias, que reside a estratégia e o modo como se contém a ameaça da “extrema-direita”. Agora, crê-se, “política de proximidade”, “equipas ligadas aos reais problemas das populações”, “programas práticos e compreensíveis”, “candidatos reconhecidos na rua”, é que compõem a receita que livrará o sistema político tradicional da ameaça “Chega”.

Não me convence. Quanto a mim, no passado Domingo, consolidou-se uma mudança estrutural na dinâmica eleitoral nacional com um potencial para poder vir a ser muito maior. Mas para ver isso é preciso fazer como em Moneyball, o filme de 2011 com Brad Pitt e Jonah Hill, e esquecer as narrativas, olhar estritamente para os números e partir do zero. Entre 2011 e 2015, durante os anos de Passos Coelho em que Ventura ainda pululava pelos corredores do PSD, o equivalente à agora AD, a PAF, perdeu um pouco mais de 700,000 votos. Destes, cerca de 500,000 passaram para o lado esquerdo do parlamento, distribuindo-se entre PS, CDU e BE, enquanto por volta de 180,000 acabaram na abstenção. Quatro anos depois, em 2019, após o primeiro mandato da célebre “geringonça”, a PAF, então já concorrendo separadamente, perdia mais 314,000 votos, sendo que metade destes, entre trocas à esquerda, acabaram no PS, e a outra metade de novo na abstenção. Daqui, retira-se que, entre 2011 e 2019, 340,000 votos saíram do sistema.

Estes números tornam-se pertinentes porque, em 2022, 312,000 votos reapareceriam nas urnas de voto. Se esses votos recuperados eram os votos perdidos da PAF ou não, isso é impossível de saber. Agora, que nessas eleições, após os brilharetes de Ventura e Cotrim de Figueiredo enquanto deputados únicos, o Chega cresce cerca de 330,000 votos e a Iniciativa Liberal à volta de 200,000, essa é a realidade. Haverá, obviamente, comunicação entre os diversos partidos, pelo que votos entrados no sistema não vão necessariamente cair no partido que mais sobe. Mais ainda, os votos novos no sistema não são suficientes para justificar todo o crescimento de Chega e IL pelo que estes terão ido buscar também votos aos partidos pré-existentes no sistema, em particular a um PSD de Rio colocado no “centro-esquerda” e a uma Cristas ziguezagueante. Agora, que há uma elevada probabilidade de haver uma ligação entre o crescimento exponencial destes dois partidos e a recuperação do número de eleitores, isso será uma hipótese a ser considerada.

O mesmo, aliás, ocorre em 2024 de forma ainda mais notória. Aqui, o número de votantes aumenta um pouco mais de 900,000 votos. O Chega, movendo-se a par, sobe 770,000 votos. A IL cresce menos de 50,000, um resultado aquém das suas expectativas, bem como a AD que, apesar de ganhar as eleições, apenas aumenta o número de votos em cerca de 160,000. Isto significa que a direita toda junta sobe quase um milhão de votos, a maior parte dos quais provenientes directamente da abstenção e, destes, a grande maioria depositados no Chega. Esta será a melhor interpretação dos resultados, isso porque se é certo que terá havido transferências dentro do sistema entre os diferentes partidos, estas foram em número menor, cerca de 490,000 votos perdidos pelo PS que foram parar, em parte, à AD, imagina-se, bem como, voluntária ou involuntariamente,........

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