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Floresta e Homem: uma relação de Iinterdependência

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28.08.2025

Ao contrário do meu artigo anterior, hoje escrevo a partir das margens do rio Vez.

Desfrutar da sombra de choupos e amieiros e de um solo macio para os meus pés junto ao rio ainda é possível, mas nas florestas do Alto Minho e, em geral, do Centro e Norte de Portugal, torna-se cada vez mais difícil reencontrar esses prazeres na tranquilidade da Floresta.

Reconheci esta emergência bem antes da edição deste ano do evento Incêndios, quando passeava a norte de Leiria em direção ao mar e vi muita floresta ardida. Desde esse momento, tornei-me um observador atento e quando caminho perto da casa dos meus pais e dos meus avós, ambas em Arcos de Valdevez, vejo paisagens desordenadas onde espécies invasoras e mato seco proliferam.

Comecei a investigar. Falei com inúmeros agentes envolvidos, consultores florestais, diretores de associações, engenheiros, agricultores e criadores de gado, académicos, e fui lendo livros, artigos de opinião e investigação. E aí começou o desfile: Integração, sustentabilidade, resiliência, ecologia, sinergias, circularidade, certificações, ZIFs, corredores ecológicos, baldios, ICNF, cadeias de valor, monitorização, APA, conservação genética, AIGPs e muito mais.

Isto é a realidade portuguesa. Ninguém nega a sua complexidade. É difícil. Contudo, não foi à toa que coloquei a palavra integração em primeiro lugar.

O lado positivo é que, pelo menos, já ninguém nega o problema. Várias métricas colocam Portugal na linha da frente a nível europeu, em matéria de desordenamento florestal e consequências facilmente quantificáveis, como os incêndios, erosão e intensidade.

Contudo, mais preocupante foram os testemunhos dos stakeholders com quem fui falando. Não foram positivos. E o futuro, nas suas palavras e expressões, não parece risonho. Alguns queixam-se da falta de meios e investimento. Outros afirmam que o dinheiro abunda para as florestas através dos voláteis planos de ação e indecisas instituições. A dificuldade em gerir a dualidade caça ao subsídio/abandono rural é notória.

Argumento comum a todos é a fragmentação do sistema. Falta uma base legal sólida, a informação é dispersa e a burocracia é intensa. Veja-se um exemplo (um dos muitos com os quais alguns de vocês estarão familiarizados): num projeto florestal, o aval dos fiscalizadores demorou cerca de seis meses porque não tinham carrinha oficial para se deslocarem, mesmo uma tendo sido disponibilizada pelos empreendedores.

Outra problemática é a falta ou constante mudança de visão a longo prazo, ou gestão performativa. Um exemplo concreto: apesar dos investimentos em reflorestação autóctone, passados cinco anos muitas áreas regressam ao mesmo estado, cobertas de combustível pronto a arder. Também não é sustentável a alternativa de gastar milhões todos os anos em limpezas, como se o projeto fosse infinito ou........

© Observador