Saída de Santos Silva é uma oportunidade para o PS
A não eleição de Augusto Santos Silva é um daqueles acasos cósmicos carregados de ironia que nos deviam fazer a todos refletir. A começar, precisamente, pelo Partido Socialista. Afinal, o homem que mais se esforçou por tentar criar uma bipolarização artificial com André Ventura como forma de alimentar os seus sonhos presidenciais acabou engolido pelo próprio Chega e foi forçado a sair pela porta pequena, sem brilho e sem grande comoção – fora e, mais revelador, dentro do seu partido. Era por isso importante que os socialistas apreendessem esta lição: se insistirem na estratégia de agigantar Ventura para fragilizar a direita, é bem provável que conheçam o mesmo destino de Augusto Santos Silva. Até porque a morte dos partidos tradicionais nem sequer é uma excentricidade do sistema político português.
Quanto a Santos Silva, seria de esperar que, na hora da despedida, alguém que se descreve como “cientista profissional” se esforçasse por perceber, pelo menos em parte, as causas da derrota do PS e do crescimento do Chega nestas eleições legislativas. Nem por isso. Para surpresa de cerca de zero pessoas, segundo Santos Silva, as responsabilidades desta hecatombe são de todos menos, adivinhe-se, do Partido Socialista e dele próprio.
Ainda antes de se conhecer a sua não eleição, mas quando os dados já apontavam nesse sentido, Augusto Santos Silva escreveu um artigo de opinião no Público onde enunciava as causas da “derrota honrosa” do PS – o partido perdeu quase meio milhão de votos em dois anos e teve o seu pior resultado desde 1987 – que é todo um tratado de desresponsabilização.
Causa número um: a cabala do Ministério Público. Argumenta Santos Silva que o PS enfrentou estas eleições “nas piores condições políticas, com um governo demitido por intervenção judicial”. Nunca é demais recordar que o primeiro-ministro cessante tomou a decisão de se demitir e reafirmou, quase um mês depois, em entrevista à CNN, a 11 de dezembro,........
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