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O que o Sudão diz de nós

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monday

A violência dura há 3 anos, mas na realidade nos últimos 60 tem sido raro o período em que abranda. Nos últimos três anos cerca de 150 mil pessoas já morreram. Inúmeras foram torturadas e executadas a sangue frio. Crianças, mulheres, indefesos de toda a espécie sofrem o indizível. A fome reina naqueles territórios, e se uma parte é involuntária e fruto da violência, há uma outra parte deliberada para fazer vergar, varrer e exterminar as vítimas. Uma organização de médicos locais em Janeiro deste ano alertava para o número catastrófico de 522 mil crianças mortas por inanição desde 2023. Outras fontes dão conta de números à volta deste, sempre na casa das centenas de milhares. Há, porém, movimentos mais fáceis de contabilizar. Só nestes três anos que já leva a última vaga de violência e terror, 12 milhões de refugiados dispersaram-se para onde puderam. Falo evidentemente do Sudão.

Não deveria ter escrito “evidentemente” porque nos media ocidentais, por razões mais ou menos inconfessáveis, parece só haver um local no mundo onde se sofre com a violência. Só um lugar no mundo produz refugiados, só num lugar do mundo se sofre às mãos da violência política. Aparentemente, a nossa atenção tem de esgotar aí e não pode desviar-se, seja sob que pretexto for, para mais parte alguma. Sobre o Sudão, assim como sobre outras paragens, a notícia fica reservada para o rodapé, ou para clips de 30 segundos sem direito a comentário, nem indignações activistas. Para o Sudão não vão flotilhas, nem caravanas, nem recaem suspeitas de genocídio.

Este mistério de indiferença, que tanto tenta envolver as vítimas e calar o seu sofrimento, diz afinal........

© Observador