A imigração e a teoria política
Como os mais prescientes há muito avisaram, a imigração tornou-se um assunto político de primeira ordem. Portugal juntou-se agora ao clube. A razão de este tema estar no topo da agenda de todos os países sem excepção é também a mesma para todos eles: o volume dos fluxos migratórios e das populações estrangeiras residentes, mas também de nacionalidade recente. Antes dizia-se que, se os outros países europeus tinham problemas desse tipo, era porque não tinham a nossa vocação universalista, nem conheciam as nossas misteriosas práticas tolerantes. Hoje já percebemos que isso foi tudo uma nobre mentira que contámos a nós próprios.
Na geografia europeia, o debate em torno da imigração é notavelmente homogéneo. Com uma ou outra excepção, de que a fórmula esquerdista de Sahra Wagenknecht, na Alemanha, é provavelmente o exemplo mais sonante, a imigração tem sido debatida nas democracias ocidentais em grande medida como uma fractura que separa a direita da esquerda. Hoje não me interessa reproduzir os argumentos que ouvimos em toda a parte de um lado e do outro da barricada. Interessa-me, outrossim, percorrer alguns dos elementos mais profundos da teoria política que orienta uns e outros. No fundo, quais são as razões filosóficas e morais que alegadamente sustentam o que os políticos e seus apoiantes defendem (e atacam) no espaço público democrático. Comecemos pelos extremos.
A extrema-direita revê-se apenas numa sociedade radicalmente........
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