Por um fio
in memoriam
[Elevador da Glória, 5/9/2025]
Era um fim de tarde gracioso, levemente triste por começar cada vez mais cedo, vestido de uma brisa suave, transparente, quase jovem, que dava para pressentir tudo bem e tudo bom, naquele pré-outono citadino.
Era aquela hora em que tudo e todos parecem recolher-se: a casa, para os filhos, o marido, o jantar, trazendo no corpo o peso das tarefas, do exercício, do estudo, ou, em tempo de férias, aquela gota final do lazer, no ardor bom do sal e do sol no corpo que se espraiara, deleitado.
Era Lisboa. Já madura, mas muito mulher, muito franca, muito aberta, num sorriso vibrante a receber os visitantes e curiosos dos seus encantos e recantos.
Era aquele lugar vezeiro dos funcionários, transeuntes e turistas que queriam passar do alto para o baixo da colina mais povoada de ícones da cidade antiga, ou seja, descer do miradoiro de S. Pedro de Alcântara, donde se vê, em grande angular, a outra cara da cidade, para a Praça dos Restauradores, na elegância do seu Palácio, na pureza de estilo arquitetónico dos antigos cinemas Eden (Art Deco) e Condes (anos 40 do século passado), no seu simbolismo revolucionário, lembrado pelo obelisco central e pelas homenagens anuais, a cada 5 de Outubro, data (em 1910) da implantação da República em Portugal.
Era, ali, aquele ponto concreto de espera em fila para aqueles que pretendem subir de elevador a Calçada da Glória até ao topo, a desembocar no Bairro Alto, mesmo à ilharga do Miradoiro. Um percurso penoso que se pode........
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