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Outra crónica de Verão (e uma despedida triste)

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31.07.2025

1 Devia talvez falar do novo Governador do BdP; da meditação a que o Governo deveria obrigatoriamente entregar-se nas suas férias; da liderança de José Luís Carneiro, a “dar de si” mais cedo do que previsto; da mudança de tom e registo de André Ventura (que deve valsar entre o que fazer de si ou não fazer, como líder da oposição).

Mas não, estamos no defeso. Ficará para depois. Até lá, entre praias e campos, acodem-me antes breves notas de que guardei apontamento.

2 Na semana passada tive de ir a Cascais: lembrou-me o inferno. Entrar na vila e atravessá-la exige um sistema nervoso equilibrado que ampare até o suor da impaciência: é um carro-a-carro como se podia dizer um corpo-a-corpo, por entre uma gigantesca massa de lata. A massa desloca-se penosamente a passo de caracol por vias e avenidas que já não a comportam: o asfalto é infinitamente menos amplo que as incontáveis “viaturas” que a cada segundo o percorrem, sobem, descem ou cruzam. Também não me lembro de tanta gente ao mesmo tempo, em tantas ruas: o centro – e arredores – desta vila à beira mar plantada, rica de história e outrora tão especial e acolhedora, é um amontoado desorganizado de automóveis, gente, restaurantes, lojas, esplanadas, comércio de rua, sortido de bugigangas, vendedores ambulantes, tudo em cima umas coisas das outras. Não fora o bom motivo que lá me levava e teria sido uma tarde fora da racionalidade do que deve ser o quotidiano de uma comunidade. Não só pelo caos do trânsito – que um dia talvez venha a ser domesticado – mas pior, pela desfiguração de Cascais, hoje roída por uma construção avassaladora, em grandes perímetros e zonas, em ritmo de cimento non-stop a crescer entalado entre mais cimento.

Uma pena, grande e sentida, para quem ali passou verões compridos, diversas largas temporadas e tem Cascais ancorada na memória.

Podem evocar-me o progresso, falar em crescimento, apontar melhorias, mencionar o desenvolvimento. Eu só pergunto: este?

3 O Patriarca de Lisboa, consciente do seu papel na sociedade portuguesa, escreveu há dias aqui mesmo um notabilíssimo texto sobre o que nos tem sido politicamente acenado como prioridade ou urgência, e falo obviamente da imigração. D. Rui Valério, homem de sabedoria, ponderação, seriedade, critério, disse que “é essencial que a integração não signifique renúncia à própria........

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