Os “primos”- crónica de pré-rentrée
1 Dantes os nossos verões lembravam saltimbancos que iam pousando a tenda nunca no mesmo lugar: uma casa alugada em S. Miguel, o Douro acima e abaixo, um barco nalguma ilha, as praias do sul. E a Comporta onde começámos a ir há 42 anos. Poucos sabiam onde ficava e menos ainda porque íamos ou o que lá se fazia (e 42 anos quase me conferem hoje a legitimidade de um “doutoramento” sobre a “Comportááá” de agora…)
Só então depois de montar tendas aqui, ali, acolá, rumávamos ao Oeste, enquanto no caminho me ia travestindo de “estalajadeira”.
Hoje, não. Acabou-se. Foi uma época de privilégio e descoberta mas passou, exit saltimbancos. A estalajadeira entrou em regime full-time sem folgas” (e vivam todas as minhas “colegas” que eu serei sempre a primeira a louvá-las).
2 Sucede porém que este ano foram tempos especiais e não foi só o calor. Foi a observação da nossa paisagem humana “privativa” e a ternura que ela destilava. Mais sentimento que banhos de mar.
Claro que se antecipava que intensa seria a automática subversão da ordem natural de comportamentos, horários e modos de vida; a permanente sobrelotação das duas casas do nosso perímetro oestino onde vivemos; o afanoso labor diário em mercados e supermercados, como se lá trabalhássemos; as luzes permanentemente acesas, em horas e circunstâncias que justamente as dispensavam; a frequente e persistente troca do dia pela noite. (“Ah logo de manhã a comerem tanto pão com chouriço?”, inquiriu um dia a três matulões hirsutos um espantado pater famílias, ao entrar cedo na cozinha: “não, chegámos agora das festas de S. Martinho, estamos a comer qualquer coisa antes de ir dormir”. Eram quase nove horas da manhã.)
3 S. Martinho festejou exitosamente o seu longo “15 de Agosto”; Pedro Abrunhosa brilhou nas festas de Ferrel, para onde boa parte de tribo se........
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