Eu tive Cidadania
Frequentei a escola pública portuguesa,considerada por muitos o bastião da formação cívica. Cursei a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento e, após anos de frustração,sinto-me compelida a relatar a realidade desta disciplina: desvalorizada e mal implementada.
A disciplina de Cidadania e Desenvolvimento é, em teoria, um dos pilares do currículo moderno,desenhada para preparar os jovens para a vida em sociedade e até, imagine-se, para formar futuros cidadãos informados. Na prática, e digo isto com a autoridade de quem passou anos a atravessar salas de aula com powerpoints reciclados e discursos genéricos, esta disciplina é uma piada mal contada.Mas,isto pouco importa. No país em que vivemos,o rótulo é mais importante do que o conteúdo, vai-se fingindo que Cidadania se dá — e que se aprende.
Tomemos, por exemplo, o tema da ideologia de género. Há quem pense que esta matéria está a doutrinar as crianças. Se é esse o medo, podem dormir descansados: ninguém está a ser doutrinado. Os professores, muitos deles claramente desconfortáveis com este tema, limitam-se a dizer algo como: “Sabem o que é uma pessoa transgénero? Sim?Respeitem-nas, são pessoas como nós”, e pronto, acabou-se o momento pedagógico. Se esta frase solta e apática for marxismo cultural, então o Pai Nosso é trotskista. Não existe qualquer tipo de aprofundamento, espaço para diálogo real ou abordagem pedagógica séria. Ninguém sai mais informado, muito menos mais respeitador. Aliás, o que falta não é doutrina — é estrutura, empatia e formação.
O módulo da sexualidade não fica atrás. A abordagem escolhida para esta questão consiste na apresentação de um powerpoint por........
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