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Manifesto do sorriso desdentado

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23.09.2025

Em Portugal, o sorriso é uma metáfora nacional. Mostramos os dentes ao mundo em discursos e inaugurações, mas a verdade é que, por trás dos cartazes eleitorais branqueados com “Hollywood Smile”, escondem-se as cáries do sistema. A saúde oral é o esqueleto no armário do Serviço Nacional de Saúde — e, ironicamente, o esqueleto até teria ossos fortes, não fosse a negligência sistemática que o condena a apodrecer em gavetas ministeriais.

Em Portugal, a saúde oral tornou-se o retrato perfeito daquilo a que chamamos política pública: há recursos, há profissionais, há necessidades gritantes — e há uma extraordinária capacidade de não ligar nenhuma das peças entre si. É como se estivéssemos a montar um puzzle de mil peças e, em vez de procurar onde encaixam, preferíssemos criar uma comissão para debater se a imagem final deve ser uma paisagem ou um unicórnio.

O país dispõe de gabinetes dentários nos centros de saúde, devidamente equipados e capazes de realizar milhares de consultas anuais. Mas a chave da porta perdeu-se, talvez guardada no mesmo cofre onde se arquivam as promessas eleitorais não cumpridas. É um caso exemplar de como transformar abundância em escassez: temos os meios, mas não........

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