O Dilema de Richelieu
Em 1629, a Guerra dos Trinta Anos entre Católicos e Protestantes estava prestes a ser ganha pelos Habsburgos, os grandes defensores da causa Católica. A França, governada pelo Cardeal Richelieu, estava fora do conflito. Se a França se mantivesse neutral, a religião católica triunfaria (bom) mas à custa do fortalecimento do Império (mau). O que fazer? Dar prioridade aos valores religiosos, ou ao interesse nacional? Richelieu decidiu que o interesse estratégico da França prevalecia sobre tudo o resto e entrou na guerra ao lado dos estados protestantes, primeiro através de subvenções financeiras e depois com o envio de exércitos. A raison d’état era mais importante do que a religião – até para um cardeal católico.
Desde essa altura até 1945 a Europa foi o continente da raison d’état nas relações internacionais. O alemão Clausewitz cunhou o célebre aforismo de que “a guerra é a continuação da política por outros meios”. O primeiro ministro britânico Lord Palmerston definiu a política externa do seu país da seguinte forma: “A Inglaterra não tem amigos eternos nem inimigos perpétuos. A Inglaterra tem é eternos e perpétuos interesses.” Durante a Segunda Guerra Mundial, Churchill, que era um anti-comunista inveterado, justificou a aliança com a União Soviética com o bon mot de que “se Hitler invadisse o Inferno, eu, pelo menos, faria uma referência favorável ao diabo.”
Estes tempos acabaram – “e ainda bem”, porventura estará o leitor a pensar. A Europa hoje atua na cena internacional como uma comunidade de valores, promovendo a democracia e os direitos humanos. Por isso foi grande o nosso choque quando o Presidente americano encetou negociações diretas com a Rússia para terminar a guerra na Ucrânia, chamou “ditador” a Zelensky e o expulsou da Casa Branca após uma........
© Observador
