Projectos da ferrovia: investimento ou desperdício
Os grandes projectos ferroviários em curso no nosso país, as novas Linhas de Alta Velocidade (AV) Lisboa-Porto e a parte portuguesa da Linha Lisboa-Madrid, que implicam gastos superiores a 10 mil milhões de euros, são um investimento ou um desperdício? A priori, ambas as respostas são possíveis. A resposta verdadeira depende de saber se estas linhas férreas vão ou não servir as necessidades da economia portuguesa e dos cidadãos quando estiverem em funcionamento. Com as características técnicas actuais destes projectos (que se poderiam corrigir), a resposta é claramente que não, estes gastos serão, em grande parte um desperdício de recursos. Por isso, nesta situação, estes gastos são essencialmente um conjunto de gigantescas dívidas escondidas que os Governos (os anteriores e o actual) pretendem deixar às gerações futuras, em vez de serem, como podiam ser, alavancas de desenvolvimento económico.
Passo a fundamentar. Em primeiro lugar esta não é uma questão apenas de ferrovia e das características técnicas dos projectos; é também uma questão económica, porque tem a ver com a satisfação das necessidades da nossa economia, tanto no transporte de passageiros como de mercadorias.
São conhecidos os constrangimentos ambientais e energéticos que a Humanidade enfrenta. Sabe-se também que uma das principais fontes de poluição são os transportes. Por isso as políticas da União Europeia para garantir a sustentabilidade do sistema de transportes da Europa passam por uma transferência significativa dos modos aéreo e rodoviário para os modos ambiental e energeticamente mais eficientes, que são o marítimo e o ferroviário, sendo este a espinha dorsal do sistema de transportes.
Sabemos também que, das exportações portuguesas, 70% são para a Europa, e destas, em valor, 80% são transportadas por rodovia. Como a competitividade do transporte de mercadorias de longa distância na rodovia está condenada pelas razões referidas, a competitividade de metade das exportações portuguesas está condenada se não se encontrar uma alternativa. A via marítima não é alternativa para grande parte das nossas exportações, por falta de frequência (espaçamento temporal de vários dias entre navios), tempo de percurso superior e necessidade de mais transbordos, principalmente para destinos que não estejam próximos dos portos europeus. A ferrovia é a única alternativa competitiva, e para este efeito, precisa de ser totalmente interoperável com as redes ferroviárias dos países de quase toda a UE.
Este é um assunto mais que estudado a nível internacional. Uma Linha para ser interoperável não pode ter obstáculos técnicos à circulação de comboios, ou seja, as caraterísticas técnicas das Linhas em todo o percurso........
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