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A terceira Lei de Newton

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28.01.2024

Clássicos de sempre, lidos e relidos, geração após geração, habituados ao respeito que se deve à cultura e àqueles que a ela se dedicam, repousavam tranquilos nas estantes, alheios aos ventos de mudança que o extremismo à esquerda e à direita preparava com a diligência dos fanáticos e a cegueira dos ignorantes.

Das bibliotecas e das nossas estantes chegam, agora, murmúrios de receio, pois, não se sabe exatamente como, de repente, o impensável se tornou opção, o absurdo se vestiu de normal, a intolerância perdeu pudor e já quase tudo lhe é permitido.

Apanhados nas teias do tribunal popular, que se alimenta do equívoco, que acusa, julga e condena à medida de interesses e ideologias, muitos são os livros que se queixam, indignados com as acusações de que são alvo.

Alarmados, os livros marcam, ao melhor estilo das nossas empresas públicas de transportes, um plenário para discutir o problema e definir formas de luta.

Consta que a Cinderela e a Branca de Neve são perigosas influências para as crianças e suas relações com as respetivas madrastas, a que se vem juntar, no caso da Branca de Neve, o infame pecado de ser branca… como a neve.

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Parece que os livros do Tintim são, afinal, colonialistas e racistas, disseminadores de estereótipos e preconceitos que desrespeitam os descendentes de milhões de oprimidos por anos de colonização.

O livro do capuchinho vermelho é acusado de normalizar o uso excessivo da força contra o lobo mau.

A coleção do Astérix, vendo-se acusada de reforçar uma visão estereotipada dos países e dos seus povos, procura em vão lembrar que o humor vive, em grande parte, da caricatura e do excesso.

Uns insurgem-se e prometem luta, outros, aturdidos, recuam envergonhados, culpados de expressar uma qualquer ideia contrária a um dos lados das barricadas erguidas por extremistas à esquerda e à direita.

Tentam explicar que, noutros livros, fala-se de regimes autoritários que, em tempos idos, na velha Europa, queimaram e censuraram livros e recordam que em muitos outros livros conta-se a História que é preciso conhecer para compreender o enquadramento social, cultural e político de cada época, exercício indispensável para se apreciar, entender e respeitar qualquer obra que se leia.

E eis que chega o dicionário, o livro que é pai das palavras. E, como todos os pais, sai em defesa dos filhos.

Começa com o exemplo da palavra ”preconceito”, injustamente maltratada, cujo significado ficou refém de uma conotação pejorativa, que impede os mais apressados de compreender o seu verdadeiro sentido.

Diz que a palavra “preconceito” está arrasada,........

© Observador


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