Os horrorosos «indícios» do fascismo
Está agora em moda falar dos «indícios» do «fascismo» como se ele estivesse a chegar. A comunicação social que em vez de nos informar só nos mimoseia com a opinião de uns tantos jornalistas armados a «intelectuais», veicula intensamente este alarme.
Mas o que são para estas pouco esclarecidas cabeças tais «indícios»? Sim, porque numa democracia política adulta e consolidada como a nossa, não é fácil para um observador descomprometido, perceber porque virá aí o «fascismo».
Como os que assim falam não sabem bem o que foi o fascismo, louvam-se nuns jornalistas armados em sociólogos e politólogos de terceira categoria que exploram o tema, abusando da candura dos leitores para melhor venderem. Como não estão satisfeitos com os resultados eleitorais que expuseram a derrocada das esquerdas, a democrática e a outra, nem com o retumbante sucesso da política económica do Javier Milei, aproveitam toda e qualquer oportunidade para cevar as suas frustrações com um palavreado alarmista e intrujão. Pena é que os jornalistas só utilizem a comunicação social para efeitos ideológicos, mas já aqui falei disso. Recordo só que à grande maioria dos jornalistas portugueses a verdade não interessa nada, como toda a gente sabe.
Quais são os «indícios»? Há por aí uns grupelhos de inadaptados com nomes góticos, vestidos de preto e cabeça rapada a fazer desacatos, orgulhosos da «raça branca» ou de serem «celtas» ou outros disparates. Mas não representam nada. Foram encontradas algumas armas e um indivíduo já alcoolizado deu um murro a um actor à porta de um teatro. Ora, nada disto é uma ameaça à democracia portuguesa. Não passa de um caso de polícia. O fascismo também não espreita porque os moradores da Mouraria se insurgem, coitados, contra os desmandos e a sujidade feita pelos imigrantes ilegais e pelos toxicodependentes. A democracia tem de saber conviver com estes desmandos e reagir adequadamente mas tais factos não representam qualquer perigo mortal. Dizer que temos um problema político e social com a extrema-direita neo-nazi é uma imbecilidade.
Evidente é que para os simplórios que interpretam toda a complexidade da vida política europeia do último século na perspectiva da titânica luta entre o capital e o trabalho, o «fascismo» é a resposta da «burguesia» à baixa da taxa de lucro que é como quem diz, à necessidade de recuperar os lucros que lhe foram retirados pela gloriosa «luta» da classe operária. Fiéis ao estafado axioma marxista da eterna necessidade da «recomposição do «capital», como se sabe sempre «ameaçado» pelo movimento operário e pela permanente «crise» do capitalismo, detectam o «fascismo» ou seja, a ditadura sangrenta do grande capital em qualquer iniciativa por mais razoável que seja. Qualquer solução é, se não «fascista» pelo menos «fasciszante», porque sempre vendida aos interesses dos «grandes grupos» económicos e dos (anteriormente) chamados «grandes agrários» (termo que acabou por sair do jargão marxista porque já não existem). Tudo são assim «indícios» do «fascismo» que, tal como o Messias, está sempre a chegar. Tanto preconceito povoa ainda hoje a fraca cabeça dos teóricos esquerdistas, mas nem vale a pena........
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